Sairam hoje no Jornal do Commercio – PE

Sairam hoje no Jornal do Commercio – PE

    Foram publicadas hoje no Jornal do Commercio em Pernambuco duas matérias bastante interessantes sobre os Práticos. Apesar de alguns equívocos, os textos esclarecem bastante sobre a profissão para quem não é marítimo.

Práticos: os portos dependem deles

Quem desconhece a atividade portuária pode se surpreender com a figura de um profissional escalando uma escada de corda para embarcar ou desembarcar num navio. Essa missão, um tanto heroica, cabe ao prático, uma espécie de manobrista de embarcações. Sem a subida dele a bordo, nenhum comandante pode atracar ou desatracar nos portos brasileiros. O serviço de praticagem é milenar e foi regulamentado no Brasil com a chegada de D.João VI ao Rio de Janeiro, em 1808, na abertura dos portos no País. Em Pernambuco a atividade é executada há 100 anos e conta hoje com 11 profissionais em atuação.

“O prático é o primeiro agente do Estado a subir no navio quando ele chega ao porto. Antes mesmo do pessoal de saúde, vigilância sanitária, Receita e Polícia Federal. Os comandantes estão acostumados à navegação em alto mar. Não estão aptos a executar manobras em áreas restritas. Por isso, a importância e a responsabilidade da praticagem, que contribui para preservar as instalações, a infraestrutura e o meio ambiente local. É um profissional especializado, que conhece todas as características da região”, explica o prático Hans Hutzler, pernambucano de ascendência alemã.

Por questão de segurança, a praticagem é obrigatória por lei no Brasil. A atividade evita prejuízos econômicos e ambientais. “O vazamento de óleo da BP, no Golfo do México em 2010, nos Estados Unidos, serve como exemplo. O poço ficou aberto por 4 meses e o vazamento chegou a 1,2 milhão de barris. Imagine se um navio como o João Cândido bater numa pedra e derramar petróleo? Ele transporta o equivalente a um milhão de barris”, compara, lembrando da tragédia que seria para o turismo da região. Vizinhas de Suape estão as praias do Litoral Sul, inclusive a festeja da Porto de Galinhas.

Esse não é o único caso ilustrativo do papel preventivo da praticagem. O acidente mais famoso foi o do navio Exxon Valdez, no Alasca (EUA), que resultou no vazamento de 41 milhões de toneladas de óleo e um prejuízo de US$ 6,5 bilhões. Como o pagamento do serviço de praticagem era facultativo, o armador (dono do navio) decidiu economizar na tarifa e acabou pagando caro.

Recentemente, no Equador, um porto ficou um mês sem operar em função de um acidente. “O comandante exagerou na velocidade e o navio bateu em um portêiner (guindaste que opera contêineres da embarcação para o cais)”, conta Hutzler. O prático destaca que se uma embarcação encalhar no porto demora pelo menos um mês para ser removida, com prejuízo de inviabilizar a atividade portuária.

A praticagem funciona como uma espécie de cooperativa. Os práticos se juntam e mantém a estrutura para executar as manobras dos navios. No Estado, a empresa que reúne a categoria é a Pernambuco Pilots, que conta com 11 sócios. A empresa emprega 50 funcionários, entre marinheiros e operadores de rádio para atender aos portos de Recife e Suape. O grupo conta com oito lanchas, que são usadas no transporte dos práticos até os navios. Eles pagam as despesas e dividem os valores recebidos nas operações. “Nosso trabalho é difícil. E é uma lenda que recebemos alta remuneração”, reclama, sem revelar o valor. No mercado a informação é que, dependendo da movimentação do porto, o prático chega a tirar R$ 20 mil por mês. Eles trabalham sete dias e folgam sete e realizam uma média de 3 mil manobras por ano.

A equipe do JC acompanhou, da lancha da praticagem, a manobra de desatracação do navio de contêiner Cap.Graham, no Porto de Suape, num final de tarde de uma quarta-feira. Em exatos 30 minutos, o prático Hans Hutzler manobrou a embarcação, com o apoio de dois rebocadores. Equipado com colete, luvas, calçado adequado, rádio WHF e GPS ele escalou o navio de 20 metros de altura. Para realizar a manobra ele fica no alto da casaria, controlando pelo rádio como os rebocadores devem se posicionar e que potência devem usar para tirar o navio do cais. “O momento mais perigoso é quando o navio sai da área protegida pelo quebra-mar. “Quando o mar está grosso (revolto) a escada é jogada a três metros e nosso corpo vai junto. Isso faça sol ou faça chuva”, relata.

Entrar na atividade de prático não é fácil

Para embarcar na profissão de prático é preciso mais que vocação aventureira. Conquistar a carteira da atividade e receber o certificado de habilitação de manobra de navios significa percorrer um longo caminho. A profissão exige formação de nível superior e fluência em inglês. Além disso, é necessário fazer curso de oficial na Marinha (mercante ou de guerra) ou ter estudado para mestre amador em qualquer unidade da Capitania dos Portos no País. Com toda essa formação é possível se candidatar aos concursos nacionais para praticantes de práticos oferecidos pela Marinha do Brasil, quando existe demanda do mercado.

No ano passado, a Marinha realizou concurso para preencher 81 vagas, que foram disputadas por 2.600 candidatos (uma média de 32 por vaga). Depois de passar no exame, o profissional vai treinar entre um e dois anos como praticante de prático para, só depois, ganhar a titulação de profissional.

O concurso inclui provas teóricas, exames médicos e avaliação física. A bibliografia é em inglês e a prova exige conhecimentos sobre manobras, arte naval, navegação, meteorologia, legislação e comunicações. Na prova física, o candidato precisa mostrar que sabe nadar, flutuar por 20 minutos e é capaz de fazer barras.

Na disputa de 2011, dois praticantes foram selecionados para Pernambuco: Bruno Garcia e Vanessa Zamprogno. “Eu já era prático no Ceará, mas para atuar em outra praça é preciso treinar como praticante novamente, sob a responsabilidade da associação de praticagem local. Isso porque é preciso conhecer as características de cada porto”, explica Bruno.

Durante o treinamento, o praticante precisa acompanhar 250 manobras e executar outras 300. O período de aprendizagem não é remunerado. “As manobras precisam ser realizadas em todas as estações do ano, em função da mudança na velocidade e direção dos ventos, meteorologia e outras variações”, explica Hans Hutzler, da Pernambuco Pilots. Depois de concluir as 550 manobras, o praticante ainda será submetido a uma nova prova realizada pela Capitania dos Portos local.

Engana-se quem pensa que a maratona acaba por aí. A cada 5 anos, os práticos passam por um curso de atualização. A reavaliação também vale para quem ficar algum tempo afastado da profissão. Afinal, o nome do profissional é autoexplicativo. É preciso ter prática para executar as manobras.

Fonte: JConline

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