Única mulher na baía de Paranaguá, Vanessa realizou sonho da adolescência
Atividade exclusivamente masculina até menos de uma década, as mulheres estão ingressando aos poucos na praticagem, ainda de maneira tímida. Estima-se que, atualmente, elas sejam pouco menos de 20, distribuídas em todos os portos brasileiros. Uma delas é Vanessa das Graças Moraes, 29 anos, que trabalha com outros 26 práticos, todos do sexo masculino, na baía de Paranaguá.
Nascida em Altônia – no oeste do estado, a mais de 700 quilômetros do litoral – ela foi conhecer o mar somente aos 16 anos. Filha de lavradores de café, decidiu que era dali que queria tirar o sustento. O sonho começou a ganhar vida em 2005, quando se mudou para o Rio de Janeiro, para cursar Ciências Náuticas, na Escola da Marinha. Formada em 2007, navegou pelo “mundo inteiro” a bordo de um navio de 278 metros, carregado de óleo cru. “Eu era uma dos encarregados de navegação. O comandante fazia as manobras mais difíceis, e nós nos revezávamos em outros momentos”, recorda.
De volta ao Brasil, em 2011, Vanessa foi aprovada em um teste seletivo para prático no porto de Natal (RN). O retorno ao Paraná veio recentemente, depois de uma nova prova. Além das dificuldades comuns da profissão – que exige equilíbrio emocional, desembaraço e força física –, volta e meia ela precisa saber lidar com certa resistência de tripulantes e comandantes mais experientes a uma mulher dando ordens. “Você nota que o comandante não está gostando. Já aconteceu de alguns não executarem a manobra como orientei. Mas nossa tarefa é garantir a segurança, é preciso ter equilíbrio, porque trabalhamos muito com o inesperado.”
Para evitar problemas, um dos segredinhos é deixar a vaidade para depois do trabalho e vestir o uniforme – jeans, camisa polo e calçado de boa aderência. “Não dá para usar nada decotado ou maquiagem. As tripulações são formadas por muitos homens que passaram mais de 30 dias no mar”, brinca.
Embora pareça uma profissão rotineira, Vanessa garante que o prático lida, diariamente, com situações novas e desafiadoras. “Cada tripulação é única, os navios são diferentes e as condições climáticas variam muito. É um trabalho bastante dinâmico. Para mim, é uma conquista, fruto de um sonho e de determinação.” Realizada profissionalmente, ela garante que a atividade não a impede de realizar o desejo de formar uma família. “A profissão não compromete. Penso em ter família, filhos. Um prático pode ficar afastado por até dois anos, então, não vejo problema.”
Deixe um comentário
Você precisa fazer o login para publicar um comentário.