Para aperfeiçoar manobras no Porto, práticos voltam à escola

Para aperfeiçoar manobras no Porto, práticos voltam à escola

Aperfeiçoar manobras de atracação e desatracação no canal do Porto de Santos, ampliando a segurança durante entradas e saídas de embarcações, cada vez maiores. Este é o objetivo da Praticagem de São Paulo ao enviar seus profissionais – responsáveis por orientar a navegação de navios no complexo portuário santista – a centros de treinamento no exterior.

Todos os anos, pelo menos uma dupla de práticos da região segue para a França, onde passam por treinamentos na escola Port Revel. Localizada entre Lyon e Grenoble, a unidade de ensino prepara práticos de todo o mundo.

As aulas ocorrem em um lago de 5 hectares (50 mil metros quadrados, 6,7 vezes a área do campo da Vila Belmiro, do Santos Futebol Clube). Nele, foram instalados, em escala, atracadouros de terminais variados, como os de contêineres e os de líquidos. Há ainda canais de navegação estreitos e áreas confinadas, reproduzindo cenários como os encontrados nos mais diversos portos do mundo, inclusive no de Santos.

Em Port Revel, os práticos do cais santista treinam manobras de navios conteineiros de 330 metros de comprimento. No entanto, essa atividade é feita a bordo de embarcações em escala de 25 para 1, com cerca de 13 metros. Com essa diferença, os instrutores afirmam que a velocidade do cargueiro é cinco vezes maior e, portanto, o tempo de reação do condutor do navio tem de ser cinco vezes mais rápido. Por isso, o curso, com 35 horas de duração, tem um aproveitamento de 175 horas.

“Começamos com esse programa de qualificação quando sentimos que havia uma tendência mundial desses supernavios e sabíamos que eles iam chegar a Santos. Como nós sempre falamos, o produto que a praticagem tem a oferecer é segurança e soluções para alguns problemas que podem acontecer. Lá, existem modelos de navios conteineiros que tem toda a similaridade e comportamento dos navios que estamos recebendo agora”, explicou o presidente da Praticagem de São Paulo, Cláudio Paulino Rodrigues.

O presidente, que já passou pelo treinamento, explica que os cursos realizados em Port Revel têm dois níveis. Na primeira vez em que os práticos fazem o treinamento, eles realizam manobras de atracação e desatracação nas mais diversas condições. No lado, há geradores de ondas e correntes. Também se testa o cruzamento de navios.

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Navegação em canais confinados e manobras de atracação e desatracação são treinadas

Segurança

“Ninguém vai aprender a manobrar em Port Revel. Pelo contrário, os instrutores são ex-práticos franceses e holandeses e recebem práticos do mundo inteiro para que você tenha experiências em ambiente mais próximo do real, para te mostrar todas as possibilidades que você tem para fazer uma manobra segura, de chegar no limite de certas situações, de passar por situações e revertê-las sem transformar em acidentes e aumentar a qualificação, otimizando sua expertise”, explicou o presidente da Praticagem de São Paulo.

Paulino já fez o treinamento em Port Revel duas vezes. Na segunda viagem, o curso é direcionado para uma maior segurança da navegação. Nesta etapa, são realizadas manobras de emergência, em canais estreitos e confinados, em uma realidade bem parecida com a do Porto de Santos.

Além do cruzamento de embarcações, os práticos treinam maneiras de se desvencilhar de obstáculos, como pequenas embarcações e até um pato que insiste em passear pelo lago francês durante os treinamentos.

“Muitas vezes, o prático tem que sair de situações que acabariam em acidente, tornando-as apenas incidentes. Quando você está a bordo de um navio em águas confinadas como são as nossas, com uma densidade imensa de tráfego, como temos em Santos, edificações e habitações ao longo do canal inteiro, você tem que ter na mão e saber de antemão de que maneira vai utilizar todos aqueles recursos, para manter a segurança, minimizar riscos”, afirmou Cláudio Paulino Rodrigues.

Diferencial

O presidente da Praticagem explica que, além de Port Revel, há um centro de treinamento parecido na Polônia. No Brasil, porém, não existem opções semelhantes. Por isso, práticos que prestam serviços em vários complexos marítimos do mundo se reúnem para os cursos e trocam experiências durante as aulas.

“No Brasil, nós temos simuladores numéricos de manobras, que são salas fechadas com vídeo, que parecem um grande videogame e têm os seus méritos. Porém, isso não é tão válido como as manobras em modelos tripulados. Apesar dos simuladores numéricos apresentarem imagens, situações próximas no mundo real, você não tem uma interação com o meio ambiente como no modelo tripulado. Você não sente o vento, a corrente, as ondas e, principalmente, o sentimento do ser humano, a tensão do momento. Quando você encalha o navio, você se sente encalhado e tem a verdadeira sensação da manobra”, disse o prático.

Fonte: A Tribuna

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