Armadores e Práticos divergem sobre atrasos na Amazônia

Armadores e Práticos divergem sobre atrasos na Amazônia

As dificuldades no atendimento do serviço de praticagem aos navios na região Amazônica se intensificaram nos últimos dias, afirma a Aliança Navegação e Logística. O armador esperou seis dias pelos práticos subirem a bordo nas viagens de ida e volta entre Macapá (AP) e Manaus (AM), no início deste mês. Normalmente, diz o gerente de cabotagem da empresa, Claudio Fontenelle, os navios aguardam duas horas pelo prático – profissional habilitado pela Marinha que conduz a embarcação na entrada e saída dos portos, por conhecer as particularidades da navegação. A contratação desse serviço pelos armadores é obrigatória.

O problema envolve uma equação de difícil solução, que passa pela falta de práticos para uma demanda crescente e dificuldade logística no acesso ao porto de Manaus, principal saída das mercadorias da Zona Franca e que fica no coração da Amazônia.

O Conselho Nacional de Praticagem (Conapra) diz que atrasos na chamada ZP-01 (zona de praticagem do AP e AM) são um problema crônico. Separam Macapá e Manaus 1.054 quilômetros, a mesma distância entre as capitais europeias Londres e Berlim. Mas não existe voo direto entre as cidades. “Se existisse, não seríamos obrigados a ter uma logística monstruosa passando por Belém (PA). O tempo de deslocamento diminuiria muito, de 20 horas para duas horas”, diz Ricardo Falcão, presidente do Conapra. Hoje, o prático que precisa embarcar no navio em Manaus tem de pegar um voo de Macapá para Belém e, de lá, outro para Manaus. Na capital do Amazonas, o profissional segue de carro até Itacoatiara para, então, subir a bordo.

Segundo Fontenelle, no acumulado deste ano os navios da Aliança registraram 542 horas de atraso em razão de problemas nos serviços prestados pela praticagem na região. A situação, reclama ele, faz a cabotagem perder confiabilidade junto aos clientes, jogando por terra os esforços para ganhar mercado no transporte nacional para longas distâncias.

Outra consequência é o atraso na rotação do navio, que perde a janela de atracação no porto subsequente. Fontenelle não sabe, porém, mensurar o prejuízo no caixa da companhia.

Para o gerente existe uma questão de fundo que prejudica o atendimento dos navios. Em 2010 a Marinha instituiu uma escala de rodízio única entre os práticos para garantir a disponibilidade ininterrupta do serviço e evitar a fadiga do profissional. Ele afirma que o rodízio, contudo, estaria sendo distorcido pela ZP-01. “Não está ocorrendo da maneira esperada porque as praticagens passaram a fazer o rodízio entre as empresas, não entre os práticos. Como as empresas têm quantidades diferentes de práticos, quando é a vez da que tem menos o navio espera mais.”

Para José Antônio Balau, diretor da Aliança, o rodízio deveria ser controlado pela Marinha. “Qual o sentido de atribuir o controle do rodízio para uma associação de praticagem, parte interessada no resultado da distribuição dos navios por associação?”

Linésio Gomes Barbosa Júnior, prático da ZP-01, afirma que o rodízio é feito entre os profissionais, cumprindo o que determina a portaria da Marinha. Ele destaca que, em geral, os armadores solicitam o prático com 24 horas de antecedência, apesar de a Marinha determinar que a requisição tem de ser feita até cinco dias antes. “Eu levo de Macapá a Manaus 12 horas. Tenho de pegar dois aviões e um carro. Vinte e quatro horas é um tempo exíguo para fazer toda essa logística”, afirma Barbosa. “Estamos pedindo [que a requisição seja feita] 72 horas antes”, completa.

Entre janeiro de 2011 e junho de 2012 o serviço de praticagem atendeu 4.125 navios, afirma a Marinha. Desses, 32% tiveram algum tipo de atraso, sendo 380 deles superior a 12 horas e 962 abaixo de 12 horas, disse o vice-almirante Paulo Mauricio Farias Alves, diretor da comunicação social. Os atrasos ocorreram devido a diversas características “inerentes à área de atuação”. Entre as quais, condições meteorológicas; dificuldades logísticas; distâncias e tempos envolvidos nesse tipo especial de praticagem; e grande crescimento das atividades marítimas. “A falta de coordenação entre as empresas de navegação e de praticagem, na solicitação e na prestação do serviço, contribui para agravar a situação”, destaca o oficial.

Entre os dias 17 e 20 de julho, a cúpula da diretoria de portos e costas da Marinha esteve em Belém, participando de reuniões com práticos da ZP-01. Segundo Alves, a Marinha está aumentando o número de práticos da zona, que devem chegar a 114 em dois anos. Hoje, são 64 profissionais.

Fonte: Valor Econômico

3 Comments on “Armadores e Práticos divergem sobre atrasos na Amazônia

  1. Não entendi….
    Hoje são 64 práticos.
    Daqui a dois anos serão 114.
    Logo entrarão 50 novos práticos.
    Em 2011, tivemos 32 vagas….
    Alguem pode explicar?
    Novo concurso?

  2. Provavelmente novo concurso, talvez com edital saindo lá pelo meio ou no fim de 2013…

    Agora o que não entedi foi o porquê de a reunião ter sido aqui na ZP-03. Esse número de vagas extras será apenas para a ZP-01 ou será repartida entre as duas ZPs??

  3. "A respeito de matéria publicada no Blog Conexão Brasília, sobre uma suposta crise envolvendo o serviço de praticagem oferecido no Amapá aos navios mercantes, lideranças desta importante área econômica reagem. Para os trabalhadores, o setor carece de mais apoio, seja na melhor oferta de mão de obra, bem como apoio para os deslocamentos aéreos.
    "Fonte: Conexão Brasília – coluna argumentos, 04 e 05 de agosto

Deixe um comentário