Idealizador da Santos 17 defende aprofundamento do canal
Presidentes e diretores de terminais do Porto de Santos se uniram para agilizar o início do novo aprofundamento do canal do complexo marítimo. Eles defendem ampliar a profundidade de todo o acesso aquaviário dos atuais 15 para 17 metros de uma única vez e, para tanto, ofereceram custear os estudos necessários à obra. A proposta foi apresentada por representantes do grupo, batizado como Santos 17, ao ministro dos Portos, Edinho Araújo, em audiência na última terça-feira, em Brasília.
Entre os executivos, estava o novo diretor-presidente da Brasil Terminal Portuário, Antonio Passaro, no comando da empresa desde o ano passado. Idealizador da iniciativa, ele acredita que fazer essa dragagem o quanto antes é essencial para Santos se consolidar como o hub port (porto concentrador de cargas) da América do Sul e receber navios de até 14 mil TEU (unidade equivalente a um contêiner de 20 pés) – hoje, os maiores a escalar na região são os de 10 mil TEU. Em entrevista exclusiva para A Tribuna, Passaro explicou como surgiu o projeto, por que esse é o momento certo para aprofundar o Porto e quais os próximos passos do Santos 17. Confira a seguir.
Como surgiu a ideia de criar o projeto Santos 17?
Desde que cheguei ao Porto de Santos, no ano passado, vi muitas pessoas falando, conversando, discutindo o problema do canal do Porto. Mas entre os que conversavam, falavam e discutiam, ninguém fazia nada. Então decidi juntar os diretores dos terminais – de todos eles, dos de granéis sólidos e líquidos e de contêineres. E propus a eles que fizéssemos alguma coisa em conjunto para ajudar o Governo e as autoridades no que fosse necessário para fazer a dragagem, aprofundando o canal do Porto o quanto possível, de modo a atender a demanda da nossa realidade. Criamos então o grupo Santos 17, porque queremos ter 17 metros de profundidade em todo o canal. Isso daria um calado operacional de 15,5 metros.
Por que o Porto de Santos deve se preparar agora para ter um canal de 17 metros?
Na parte que me toca, ou seja, nos contêineres, hoje estão saindo ou sendo anunciados novos navios de 19 mil, 20 mil TEU (unidade equivalente de 20 pés). Eles vão para a rota Europa-Pacífico, substituindo os de 13 mil, 14 mil TEU que operam nessas linhas. E esses últimos navios vão para algum lugar. Essa é a oportunidade de trazer navios de 14 mil TEU para a costa sul-americana. É uma oportunidade que não podemos perder. É uma oportunidade de o Porto de Santos aumentar muito sua competitividade, diminuir custos e se tornar, finalmente, o hub port da região. Esses navios nunca, jamais vão poder entrar em portos como Buenos Aires (Argentina) e Montevidéu (Uruguai), que têm pouca profundidade.
Por que as empresas se ofereceram para custear os estudos da dragagem?
Acho que nós, empresas privadas, temos maior liberdade em certas ações e podemos ser mais rápidos e efetivos. Queremos, portanto, ajudar o Governo e o Porto de Santos a obter o que necessitamos. A Codesp (Companhia Docas do Estado de São Paulo), como se sabe, fala em fazer estudos para receber navios de maior capacidade. Esses navios de 14 mil não vão vir a Santos com um calado de 13,2 metros pois isso significaria vir meio-cheio, meio-vazio. Se o navio vem, ele vem cheio, ou não vem. Para isso, necessita de 15 metros (de calado). Depois de falar com o presidente Caputo (o presidente da Codesp, Angelino Caputo e Oliveira), que disse que estava em vias de fazer esses estudos, nós dissemos: por que não ampliamos esses estudos e vamos além? Aliás, por que não vemos até onde o Porto de Santos pode chegar e já fazemos isto de uma vez? Para isso, primeiro, será necessário fazer um estudo conceitual, que é esse estudo que eles estão fazendo, só que ampliado. E a gente está disposto a financiar, eventualmente, a diferença entre o que (a Codesp) estava pensando em gastar e o que vai se gastar com esse estudo conceitual completo, digamos. Se a gente fizer o estudo conceitual e der positivo, indicando que pode fazer (a dragagem para 17 metros), como todos nós esperamos que vá dar, aí teremos de fazer outros dois estudos, um do meio ambiental e um projeto executivo. Esses dois, o grupo Santos 17, a iniciativa Santos 17, está disposto a financiar, a doar ao Governo.
Qual o custo dos estudos?
Não temos uma estimativa neste momento. Na reunião com o ministro Edinho Araújo, foi informado que as pesquisas podem ser feitas pela Universidade de São Paulo (USP) ou pelo Instituto Nacional de Pesquisas Hidrográficas (INPH, da Secretaria de Portos). Quem fará?O Santos 17 é um grupo de investidores, digamos. Estamos canalizando tudo isso através do Sopesp (Sindicato dos Operadores Portuários do Estado de São Paulo). O que nós desejamos é a forma certa de fazer. Eu acho que quem vai fazer o estudo, seja a USP ou o INPH, no Rio, é uma questão ainda a ser decidida. Mas vai ser decidida em conjunto com a Codesp e com a SEP, naturalmente.
Após a apresentação da proposta de doação dos estudos à SEP, quais os próximos passos do grupo?
Terça-feira(31), fomos convidados a apresentar a ideia também na audiência pública que será realizada (pela SEP, para debater o projeto de gestão privada para os canais dos portos) no dia 9, em São Paulo. O grupo Santos 17 é formado pelos presidentes de todos os terminais, Estamos trabalhando com o Sopesp, com a Codesp. A Prefeitura de Santos dá um enorme apoio. Eles estiveram ontem lá conosco. Tem poderes políticos que estão dando apoio, como o deputado (Beto) Mansur. Sabemos que a Praticagem quer dar apoio. O presidente da Câmara de Vereadores de Santos (vereador Marcus de Rosis) nos solicitou que incluíssemos o logotipo deles (na apresentação). E obviamente a SEP está envolvida. Esperamos agora a união de todas as partes. Esperamos o apoio da prefeita de Guarujá (Maria Antonieta de Brito).
O que ocorrerá após a apresentação do projeto na audiência pública?
A ideia do sr. ministro e de seu gabinete é que eles vão chamar uma expressão de interesse após a audiência pública. Não sabemos como isso vai funcionar. Assim, temos de esperar para ver como eles irão fazer.
Quando será possível contratar os estudos?
Quando o sr. ministro nos der a luz verde.
O sr. acredita que esse aval pode vir neste mês?
Eu acredito em Deus. Sobre o resto, espero muito.
Qual a expectativa para a conclusão dos estudos?
Eu gostaria muito de tê-los concluídos até o final do ano, para então dá-los à SEP e ela decidir como fará para dragar o canal.
Quando o Porto de Santos terá de contar com 17 metros em seu canal, para receber os novos navios?
O nome do grupo é Santos 17. Tem de ser em 2017. Se você me perguntar quando eu gostaria, é janeiro de 2017. Mas realisticamente, com tudo o que deve ser feito, acho difícil.
Quando será possível?
Em meados de 2017, se tudo andar bem e os estudos ambientais autorizarem uma obra dessa envergadura. Estamos falando de dragar mais dois metros no canal. E neste momento, há muitas perguntas sobre o que há lá embaixo.
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