Especialistas de todo o mundo debatem sobre praticagem em encontro no Rio de Janeiro

Especialistas de todo o mundo debatem sobre praticagem em encontro no Rio de Janeiro

Os custos da praticagem no Brasil e no mundo, a formação profissional e a complexidade cada vez maior das manobras envolvendo grandes navios foram destaques do seminário O Serviço de Praticagem no Brasil e a Experiência Internacional, promovido pelo Conselho Nacional de Praticagem (Conapra). Realizado no Rio de Janeiro, durante dois dias o encontro debateu os desafios da Praticagem no cenário nacional e em diversos países.

Já na abertura do encontro, o vice-almirante Claudio Portugal de Viveiros, diretor de Portos e Costas da Marinha do Brasil sinalizou a importância do prático desde os tempos de D. João VI e especialmente hoje, com o aumento do tamanho das embarcações e o do fluxo comercial. Viveiros acredita que os práticos integram o elenco modernizador dos portos brasileiros.

Para o presidente do Conapra, Ricardo Falcão, os práticos têm contornado um número crescente de dificuldades de tráfego de embarcações, suprindo, com seu conhecimento, a falta de infraestrutura portuária diante do aumento das embarcações e do maior fluxo. Falcão ressaltou que as embarcações têm equipes cada vez menores e, portanto, dependem ainda mais dos práticos para as manobras mais complexas. Navios cada vez maiores têm exigido do prático permanente estudo. “É papel do prático oferecer segurança à embarcação, à população vizinha a portos e terminais, ao meio ambiente e à carga ou passageiros transportados”.

Praticagem não pode ser responsabilizada pelos altos custos

Com críticas à intenção do Governo Federal em mexer na atividade de praticagem nos portos brasileiros, o presidente do Sindicato Nacional dos Oficiais da Marinha Mercante (Sindmar), Severino Almeida, lembrou que os práticos são profissionais habilitados pela Marinha que assessoram os comandantes na entrada e saída dos portos. Sobre a proposta defendida pelo governo de flexibilizar a formação profissional para reduzir os preços do serviço, Almeida foi taxativo: “Essa tese é falsa e está sendo ‘plantada’ por algumas empresas para confundir a opinião pública”, acrescentando que “o governo sempre mostrou zelo com a segurança da navegação, da vida humana no mar, das instalações portuárias e do meio ambiente”.

IMPA é contra a livre concorrência

Na opinião do presidente da Associação Internacional dos Práticos (IMPA) e Associação dos Práticos dos Estados Unidos (APA), capitão Michael Watson, os práticos têm de ser cada vez mais valorizados. “Para ganhar escala, os navios são cada vez maiores, o nível dos profissionais cai, assim como o número de tripulantes, e o resultado é que os armadores passam a depender mais dos práticos,” explicou ele. “E para evitar grandes desastres, em especial os que envolvem risco à vida humana e ao meio ambiente, o profissional precisa ter um manto protetor para dizer não. E esse manto deve vir de governos e convenções internacionais,” defendeu.

Michael Watson revelou preocupação com a decisão de alguns armadores em reduzir o número de tripulantes nos navios cargueiros. “Com certeza isso vai refletir no comércio mundial. Existem muitos interesses de governos que acreditam que todos os problemas possam ser resolvidos com o auxílio da tecnologia. Isso é extremamente perigoso. No convés do navio tem que ter pessoal altamente qualificado”, disse o americano.

Em vários trechos de sua palestra, Watson destacou o trabalho das praticagens no mundo. Contrário à livre concorrência na área de praticagem, “pois ela, levaria os profissionais a uma competição desenfreada em manobrar apenas navios que pagam mais, colocando em risco a segurança, que é a principal característica da praticagem nas zonas portuárias”, Watson disse que a livre concorrência para práticos não existe nem nos EUA, país que estimula a competição. Para ele a praticagem não é um simples negócio; o armador não pode ver esse serviço como uma despesa que possa ser eliminada: “Decidir por esse caminho é muito perigoso. Isso é uma política pública arriscada que pode trazer consequências catastróficas para os portos”, afirmou.

Fonte: Lu Fernandes

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