Indispensáveis para atracação e partida de navios, os práticos estão entre os profissionais mais bem pagos do País, mas o acesso à carreira e a rotina de trabalho são árduos

Indispensáveis para atracação e partida de navios, os práticos estão entre os profissionais mais bem pagos do País, mas o acesso à carreira e a rotina de trabalho são árduos

Eles são subordinados à Marinha do Brasil, mas não são militares; passaram em processo seletivo, mas não são funcionários públicos; trabalham em navios, mas não são tripulantes; não têm salário fixo ou carteira assinada, mas sua remuneração pode facilmente passar de R$ 60 mil por mês. Não é à toa que todo aquaviário sonha em tornar-se um prático, profissional responsável por guiar a embarcação em áreas de difícil navegação, auxiliando o comandante nas atracações e partidas.

Quando surgiu a navegação comercial, nasceu a praticagem. É uma das profissões mais antigas, mais bem pagas e também uma das mais desconhecidas. Na maior parte do Brasil e do mundo, a presença do prático no navio é opcional; na Amazônia, porém, é obrigatória por conta da complexidade da hidrografia regional.

Por aqui, eles são essenciais à navegação e, portanto, para o abastecimento de insumos nas fábricas da Zona Franca de Manaus (ZFM) – já que mais da metade desses produtos chegam por via fluvial – e também para o escoamento da produção.

Na última semana, esses profissionais viraram pivôs de longos atrasos na cabotagem operada na Zona de Praticagem 01 (ZP-01) – entre Macapá (AP) e Itacoatiara (AM).

Mas o número insuficiente de práticos – cerca de 80 – é apenas um detalhe nesse cenário.

Condições climáticas, longas distâncias e crescimento da atividade marítima também entram na equação, segundo informou a Marinha do Brasil. De acordo com a autoridade marítima, a questão do número de práticos será contornada com o aumento do efetivo para 114 práticos até 2014.

No entanto, como a navegação de cabotagem só tende a se intensificar, um novo processo seletivo pode ser realizado nos próximos anos. Boa notícia para quem pretende seguir essa carreira.

Para tornar-se prático, é preciso, antes de qualquer coisa, conhecer bem o rio, por isso, é obrigatório que o candidato tenha experiência como aquaviário, ainda que amador (nesse caso, tem que ser reconhecido como “mestre-amador”). Também é preciso ter diploma de graduação (em qualquer área), ter bom preparo físico e falar inglês fluentemente, já que a tripulação do navio pode ser estrangeira.

Quem atende a esses requisitos pode participar do processo seletivo realizado pela Diretoria de Portos e Costas da Marinha. O último edital foi lançado no ano passado e a seleção ainda está em andamento.

Não basta ser aprovado na prova escrita, o candidato ainda tem que participar de um programa de treinamento que pode demorar de 12 a 20 meses e passar por um exame de habilidade. Só então poderá dar assistência profissional em navios.

Carreira
Uma vez aprovado na seleção, o prático pode atuar como autônomo, porém, é mais comum que integre uma empresa de praticagem. No Amazonas há duas: a Proa e aManaus Pilots, que atendem a Zona de Praticagem 02 (ZP-02), que vai de Manaus a Tabatinga.

A remuneração é, sem dúvida, um dos aspectos que mais despertam interesse pela profissão.

O detalhe é que, na verdade, o prático não tem salário; recebe por manobra realizada no navio. O preço da manobra depende do porto em questão e do porte do navio, podendo ir de R$ 9 mil e R$ 35 mil. Daí a boa remuneração dos profissionais e as constantes queixas das empresas de navegação.

Elas argumentam que os preços cobrados no Brasil estão acima da média mundial, o que é contestado por estudo da Fundação Getúlio Vargas (FGV). O rendimento para o prático é bom, mas a responsabilidade é proporcional e os perigos também. Qualquer descuido pode causar prejuízos de milhões de dólares para o cliente e danos ambientais graves.

Geralmente, o prático precisa embarcar com o navio em movimento – é conduzido por uma lancha especialmente equipada para isso – e precisa dar plantões de 48 horas, inclusive aos domingos e feriados.

O belenense Manoel Paulo Pires Coelho, 52, prático há 19 anos, conta que, com frequência, não se sabe previamente qual será o destino e o tempo longe de casa.

“A ausência, por vezes prolongada, resulta em situações desconfortáveis na rotina da família”, conta Coelho. Mas isso não chega a intimidar pessoas como o piloto de lancha Jeferson Pereira Menezes, 22. Ele é um dos muitos que sonham em, um dia, ingressar na cobiçada carreira de prático.

“É difícil porque só há cursos em Belém e no Rio de Janeiro. É preciso largar tudo para se dedicar ao estudo”, conta.

Novos profissionais
Diante dos atrasos ocorridos na liberação de navios por falta de práticos na ZP-01, a Marinha do Brasil informou que o número de práticos será elevado de 64 para 80 este ano. “Além disso, há 20 praticantes de prático realizando a qualificação, com término previsto para março de 2013, e mais 14 selecionados para iniciar a qualificação na mesma ocasião, com término previsto para março de 2014, prevendo-se atingir, nessa data, o total de 114 práticos”, informou a Autoridade Marítima.

Cabe ressaltar que o número de práticos é apenas parte da questão. Como não há voo direto ligando Manaus e Macapá, um prático que precise embarcar em Itacoatiara tem que tomar um avião de Macapá para Belém, e de lá para Manaus, onde seguirá de carro até Itacoatiara. Uma logística infernal.

Armadores questionam a eficácia do sistema de rodízio de práticos em vigência desde 2010. Para tentar resolver a situação, a Marinha aposta no diálogo.

Em junho, a Diretoria de Portos e Costas reuniu-se com representantes do Sindicato Nacional de Empresas de Navegação Marítima (Syndarma) e com as empresas de praticagem que atuam na mesma zona para traçar um diagnóstico do problema e colher sugestões.

Entre os dias 17 e 20 de julho, o Diretor de Portos e Costas e comitiva estiveram em Belém e participaram de reuniões com práticos da ZP-01. Nessa oportunidade, algumas alternativas foram discutidas. As propostas serão avaliadas e, se forem viáveis, implementadas.

Parcela de navios que sofreram atrasos superiores a 12 horas entre janeiro e junho deste ano na ZP-01, foi de 9,2%, entretanto, 23% tiveram atrasos inferiores a 12 horas.

Fonte: A Crítica

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